segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A invasão dos coxinhas

Entro, após vagar pelo estacionamento A e pelo estacionamento B sem sucesso por uma vaga, consigo no último, o estacionamento C, onde o primeiro indivíduo do qual sentiria nojo e mal estar naquela tarde se encontra, o típico “coxinha” camisa gola polo branca bem passada da grife Overend, o olhar é penetrante, objetivo e concentrado na tela do celular, tem a aparência robusta, corpulento, e sem a mínima atenção e importância com o mundo a sua volta, pois o seu tempo é aquele instante compenetrado no iphone 4s branco. A sensação foi de “tudo bem acabei de chegar, deve ser uma exceção” ou por um lapso bem rápido de memória acreditei que seria uma infeliz receptividade atípica, subo na escada rolante, com os olhos atentos para o que viria em seguida, sem antes o meu horizonte poder me oportunizar o que iria vê em seguida, já estico o pescoço para matar a mínima curiosidade, até que chego ao andar em que desejo, e a sensação foi a pior possível, por um momento pensei em retornar e desistir do programa familiar, a fila era enorme, e o pior, cheio deles, de todas as formas com as quais se caracterizam e são intitulados, camisa polo bem alinhada de alguma grife famosa, a bermuda de cor chapada para combinar com a vestimenta superior, o cabelo rigorosamente penteado para um dos lados esquerdo ou direito sempre discreto, alguns utilizavam óculos de grau fortificando ainda mais seus traços característicos, e sempre, mas sempre mesmo, o eterno companheiro de status e glamour e objeto fundamental para sua derivação como tribo urbana, o smartphone, iphone 4s e Samsung galaxy são os mais comuns, eles abrem, liberam a senha, obrigatoriamente o primeiro aplicativo a ser aberto é o Whatsapp, sorriem, ficam sérios, incrédulos, olham para o lado para vê se podem abrir vídeos pornográficos e quando você chama a atenção para ele caminhar com o andar da fila, o sujeito ainda faz vista grossa como se estivesse incomodando a sua inestimável e prazerosa quase que sagaz relação com o celular, virando as costas de forma abrupta e jamais querendo ter outro contato destes, mesmo que daqui a 1 minuto a fila volte a andar e o repertório de ações humanas seja o mesmo.
Eles são 10,20,30 enfim, espalhados por todo o saguão, com as mesmas atitudes, previsíveis, comuns, sempre com requinte de indiferença com quem não esteja de acordo com o “padrão” coxinha, a chave do carro pendurado na bermuda- mesmo com 4 bolsos disponíveis - soa como o grand finale da personificação coxiniana, desço a escada rolante como quem desce uma escada normal, entro no agradável banheiro e me deparo com outros dois fazendo selfie no espelho, é o ponto culminante para minha retirada em disparada para o estacionamento C, ligo o carro e com o passar dos quilômetros distante daquele lugar o alívio vai me ajudando a esquecer aquela trágica tarde de domingo em um shopping da cidade.       

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